Sou julho,
estou explicado só pelo sol
Meu erro
é procurar um território
apto a nascer
A única geografia
que me aceita é a poesia
Como a chuva
que repousa entre nuvem e terra
me escrevo*
na ausência de todas as línguas
Me esqueço-me:
só me falto eu
para ficar todo só
Antes de nascer
já eu tinha envelhecido tudo
Por isso,
não me espanta
o casal de pedras
nem a árvore que engravidou
Minha doença,
felizmente,
é muito miraculável.
Mia Couto
julho de 1989
Em "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
editorial Caminho,Pág. 67
"Mia Couto nasceu na Beira,Moçambique,em 1955.Foi director da Agência de Informação de Moçambique,da revista Tempo e do jornal Notícias de Maputo.Tornou-se nestes últimos anos um dos ficcionistas mais conhecidos das literaturas de língua portuguesa. O seu trabalho sobre a língua permite-lhe obter uma grande expressividade,por meio da qual comunica aos leitores todo o drama da vida em Moçambique após a independência.Os seus livros estão traduzidos nomeadamente em francês, inglês,alemão, italiano e espanhol."
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