terça-feira, 13 de maio de 2008
*A Carlos Drummond de Andrade*
Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.
Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.
Não há guarda-chuva
contra o tédio*
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.
Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.
Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.
João Cabral de Melo Neto
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Texto extraído do livro "João Cabral de Melo Neto
Obra completa",Editora Nova Aguilar
Rio de Janeiro,1994, pág. 79.
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