terça-feira, 6 de julho de 2010

Minutos com Pastorino

Coloque Deus, conscientemente, em tudo o que faz, em todos os seus problemas, e verificará que seus sofrimentos se transformarão em experiência e aprendizado.
Coloque Deus em todos os seus pensamentos, e sua Vida se transformará num hino de alegria e louvor, porque as dores se esvairão como as trevas, que desaparecem aos primeiros clarões das luzes da aurora...

* * * * *

Seja alegre e otimista!
Quando se dirigir a seu trabalho, faça-o de coração alegre.
O trabalho que você executa é digno de sua pessoa.
Por menor que pareça, é de suma responsabilidade para você e para o mundo.
Não se esqueça jamais de agradecer a Deus o trabalho que lhe proporciona o Pão de cada dia.
Chegue ao local do trabalho com o coração feliz, e o trabalho se tornará um passatempo, um estimulante, que lhe trará, a cada novo dia, imensas alegrias e felicidade incalculável.

* * * * *

Deus nos guia sempre, dando-nos a orientação de nossa vida.
Mas precisamos ser receptivos, para ouvir Sua voz, sabendo-a interpretar através das circunstâncias que cercam nossa vida, levando-nos ao maior progresso espiritual de nosso ser.
Procure meditar silenciosamente, para ouvir a voz de Deus, que o guia, sem jamais abandoná-lo.

* * * * *

Sem esforço de nossa parte, jamais atingiremos o alto da montanha.
Não desanime no meio da estrada: siga à frente, porque os horizontes se tornarão amplos e maravilhosos à medida que for subindo.
Mas não se iluda, pois só atingirá o cimo da montanha se estiver decidido a enfrentar o esforço da caminhada.

* * * * *

Não se esqueça de que, qualquer que seja sua posição na vida, há sempre dois níveis a observar: os que estão acima e os que estão abaixo de você.
Procure colocar-se algumas vezes na posição de seus chefes; e outras vezes na posição de seus subordinados.
Assim, você poderá compreender ao vivo os problemas que surgem dos dois lados.
E, desta forma, poderá ajudar melhor a uns e a outros.

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Não limite o poder de sua vida!
Não pense que conseguirá tudo o que deseja, "numa só existência".
Mas confie, porque a vida é eterna, infindável.
Não pense também que, depois desta, irá iniciar uma vida diferente: nada disso!
Esta mesma vida é que continuará sempre.
Portanto, procure aumentar seus conhecimentos e aperfeiçoar-se, verificando como é rápido o momento atual, comparado com a eternidade!

* * * * *

O mundo está cheio da Luz Divina!
Procure percebê-la e sentir em si as irradiações benéficas, que se derramam sobre todas as criaturas, aproveitando ao máximo o conforto que isto lhe trará ao espírito.
Olhe tudo com olhos de bondade e alegria!
Busque descobrir a Luz que brilha dentro de você e dentro de todas as criaturas, embora, muitas vezes, esteja ela recoberta por grossa camada de defeitos!


Carlos Torres Pastorino
Do livro, Minutos de Sabedoria

Desenvolvimento Mental

Só a própria criatura pode desenvolver sua mente, embora seja viável obter influxos de influências externas, por obra de oradores, escritores, professores, etc. A leitura, entretanto, só faz evoluir o intelecto, não a mente; esta só é treinada pelo pensamento meditativo firme e concentrado, em determinados setores, como a Verdade, o Bem e a Beleza.

Para desenvolver a mente, temos que mantê-la em treino constante, sem jamais largá-la abandonada, a fim de que não seja atingida por pensamentos discordantes, provenientes de outras mentes encarnadas ou desencarnadas. A mente jamais deve permanecer em passividade. Só a mente capacitada a manter-se estável pode desenvolver-se. Dai a necessidade dos exercícios de concentração mental, de atenção aplicada, de estudos sérios, de reflexão precisa, e de tornar-se “criador”, não apenas receptor de formas mentais.

Quem deseja desenvolver sua mente tem que vigiá-la a cada segundo de suas horas de vigília, para só permitir que ela produza vibrações construtivas. Dessa forma, firmará uma tônica básica de elevação que lhe facilitará a tarefa. Com essa vigilância (isto é, viver despertos, acordados, e não em estado de adormecimento, pois esse é o sentido do “vigiai”), a mente evitará qualquer discussão, por mais elevada que seja, pois para discutir terá que abrir os canais mentais para receber as idéias alheias.

Para isso, é mister que “despertemos”, isto é, que saiamos desse estado de semi-sonolência dos homens involuídos, que só têm no plano mental idéias alheias, de tal forma que, se não fossem essas idéias, eles nem poderiam “pensar”. Inegavelmente é essa reflexão de idéias alheias, de fora, que vai paulatinamente formando na criatura o chamado “corpo mental”, até que, por evolução, ela consiga possuir o próprio. Mas quando isso ocorre, é indispensável dar um passo à frente, liberá-lo das influências externas, e aprender a “despertar” e permanecer vígil, pelo menos nas horas do dia em que não dorme.

Até, que, mais evoluído ainda consiga manter-se desperto mentalmente, mesmo enquanto seus veículos físicos e astrais dormem à noite. A ordem de Jesus “ Orai e Vigiai " explica exatamente isso: manter-se a criatura permanentemente (dia e noite) “desperta” e ligada às forças brancas, em “oração”, o que é conseguido com o mergulho interno e a união definitiva com o Cristo.

Nesse ponto, a consciência atual se transfere do corpo físico e das emoções, para o plano mental, e a criatura dá um salto à frente: sua mente passará a ser ativa, criadora, feliz, pois grande parte de nossos sofrimentos provêm da indisciplina mental, e todo o nosso futuro depende de nossos pensamentos atuais.

A Mente criadora é o primeiro aspecto da “Trindade humana”, e corresponde à ação do Espírito Santo; a Vontade, o segundo aspecto, é a manifestação do Pai; e o Amor, resultante da mente unida à Vontade, é o espelho do Filho, terceiro aspecto da Trindade divina.


Carlos Torres Pastorino

Do livro “Técnica da Mediunidade”, de Carlos Torres Pastorino

Alma – Espírito

A criatura humana desencarnada (fora do veículo de carne) reveste-se de um envoltório de matéria astral, isto é, de fluidos próprios ao plano astral em que se encontra. Esse envoltório mantém a mesma forma (idêntica em seus mínimos pormenores, até, por vezes, reproduzindo cicatrizes) do corpo físico que a revestia na Terra; muitas vezes conserva até mesmo a forma do vestuário que costumava usar.

Essa figura recebe, nas religiões ortodoxas, o nome de “alma”; no espiritismo é chamada “espírito desencarnado”, ou simplesmente “espírito”. Kardec, tomando os dois termos, tenta defini-los: “alma é o espírito encarnado; espírito é a alma desencarnada”
(Livro dos Espíritos, Resposta nº 134).

A Teosofia diz que ''alma é a individualidade humana, ligação entre o espírito divino e sua personalidade inferior; é o EGO (manas pensador); a inteligência é a energia de manas, que opera através das limitações do cérebro” (A. Besant, La Sagesse Antique, pág. 99).

Na “Sabedoria do Evangelho” costumamos chamar “alma” (proveniente de ánima) o principio vital que vivifica a matéria à qual se liga, e não apenas a do homem, pois o próprio animal a possui (daí sua denominação universal), e as plantas também (a “alma vegetativa” de Tomás de Aquino). Então, usamos o termo “alma” com o sentido tradicional da filosofia ocidental. Quando esse princípio vital, que constitui a personalidade (e não a individualidade) larga a matéria, nós o denominamos, como Kardec “espírito” (com “e” minúsculo) que continua sendo a mesma personalidade, apenas fora da carne. Quanto à individualidade, nós a denominamos sempre o “Espírito” (com “E” maiúsculo), por falta de outro termo na língua. Veio-nos a idéia porque consideramos Jesus o modelo e protótipo da Individualidade, e a Ele Bahá’u’lláh chamava sempre “Sua Santidade o Espírito”.

Temos, pois:

Personalidade encarnada : Kardec = alma / Nós = alma / grego = psichê.
Personalidade desencarnada : Kardec = espírito / Nós = espírito / grego= daimôn.
Individualidade : Teosofia: alma / Nós = Espírito / grego = pneuma.

A localização do espírito desencarnado se dará, nós o vimos, automaticamente de acordo com sua sintonia vibratória, permanecendo no plano astral enquanto estiver vibrando, com seu pensamento, na personagem ou personalidade que revestiu durante sua vida física. O plano será aquele a que for atraído por igualdade de onda.

Se, no entanto, conseguiu, mesmo como encarnado, localizar-se e viver na individualidade, passará no plano astral apenas o tempo necessário ao desligamento da memória da vida terrena e ao desfazimento de seu corpo astral. Nos espíritos evoluídos, cerca de trinta a quarenta dias. Mas é muito variável esse período: pode durar anos. Logo após essa libertação (também chamada “segunda morte”) o espírito que vive na individualidade passa a seu plano próprio, o mental.


Carlos Torres Pastorino,
Do livro, “Técnica da Mediunidade”, de Carlos Torres Pastorino.

Corpo Astral

O corpo astral é o molde, ou a forma, por onde se modela o corpo físico-denso. Poderíamos, talvez, exprimir mais verdadeiramente o que se passa, dizendo que o corpo astral se condensa ou se congela no físico-denso. Job utilizou uma expressão (mais de 1.500 anos antes de Cristo!) que é bem realista: “derramaste-me num jarro como leite, e como queijo me coagulaste, tecendo-me de ossos e nervos e vestindo-me de carne e pele”. (Job, 10: 10-1 1) referia-se à materialização do corpo no líquido amniótico no útero materno.

Mas os fatos se passam bem assim: o corpo astral é constituído de células de fluido astral, com sua vida própria. Essas células de tecido astral acompanham a evolução do espírito nas diversas e sucessivas existências, evoluindo elas também, porque já pertencem ao reino animal, embora monocelulares. Mas são como que agregadas permanentemente ao corpo astral de cada indivíduo, com ele evoluindo enquanto ajudam sua evolução.

Ora, a cada nova encarnação da criatura, quem se “materializa” são exatamente essas células, cada uma de per si, cada uma dentro das funções que lhe cabem, cada uma cumprindo seus deveres especializados, tudo bem gravado no DNA, em código cifrado. Então, o conjunto das células astrais forma o CORPO ASTRAL. Materializadas as células astrais, temos como resultado palpável em nosso planeta, o CORPO FISICO. Por Isso dizemos que o corpo físico é a “condensação” do corpo astral.

Ora, obedecendo, como vimos, ao pensamento, a matéria astral toma a forma que a essência do pensamento subconsciente plasma. Dai ser o corpo físico a manifestação visível do corpo astral invisível. E este comanda aquele por intermédio do sistema nervoso, que é o intermediário adrede construído.

Dizem os cientistas que as células do corpo humano se renovam todas (menos as nervosas) de sete em sete anos, sendo que a vida de algumas é muito mais breve. O que ocorre é que o corpo físico das células, cada uma de per si, envelhece e morre e a célula torna a reencarnar. A prova disso é que as cicatrizes superficiais desaparecem, quando não atingem o corpo astral das células, mas apenas seus corpos físicos, e então elas reencarnam no mesmo lugar. Mas quando o ferimento atinge seus corpos astrais, expelindo-os do lugar, a cicatriz permanece, porque não vêm outras células para substituir as que voltaram ao acervo do plano astral.

Como vemos, só a parte mais condensada, a menor e mais limitada, a mais rígida e sólida, o corpo físico-denso, é que tem capacidade para manifestar-se em nosso globo.
Toda a parte mais etérica e espiritual, muito maiores e mais fluídicas, não são percebidas por nossos sentidos.


Carlos Torres Pastorino
Do livro, “Técnica da Mediunidade”, de Carlos Torres Pastorino

domingo, 13 de junho de 2010

A Regra de Ouro

Durante alguns meses haviam estado ao Seu lado, participando das preleções na Galiléia, pela Decápole, Jerusalém e além Jordão. .. Viram-No atender enfermos de variada espécie, demonstrando invulgar poder sobre os "espíritos imundos", que O obedeciam prontamente. Observaram-No em múltiplas situações e sentiam-se maravilhados com Êle.

Embora alguns houvessem abandonado seus quefazeres para O seguirem, sentiam-se invadidos por dúvidas e suspeitas infundadas, é certo, porém acautelatórias.

Aquêle Visionário falava de um Reino Novo que não conseguiam alcançar nem compreender.

"Por que não Israel?! — se perguntavam. — Longos foram os dias do cativeiro sob o impiedoso jugo de estrangeiros desalmados; terrível o ódio das raças vizinhas; e cruentas as batalhas que aquêle povo travara para sobreviver. Novamente o grilhão da escravatura disfarçava as dilacerações nos seus corpos e nas suas almas... Por que não conferir a supremacia a Israel, no concerto das Nações?..."

Sem dúvida, o Seu poder era exercido sobre eles que estavam resolvidos, se necessário, a imolar-se até sob o Seu comando. Quando, porém, se ausentavam e a Sua presença diminuía o facínio neles, sentiam-se fracos, saudosos da vida que levavam antes, receosos da empresa. Conquanto a Sua palavra rutilante e vigorosa lhes caísse como chuva contínua sobre terra sedenta, Êle não dizia tudo. Ensimesmava-se longas horas, quando não desaparecia inúmeras vezes, a sós, retornando com a face pálida e os olhos que sempre brilhavam como duas gotas de luz, sombreados de dorida tristeza.

Relutavam interiormente.

João, por ser mais jovem, febricitado depois de cada discurso, sonhava com as estrelas e cantava entusiasmado a melodia da mocidade nas cordas da harpa do vento. Tiago, no entanto, seu irmão, amadurecido pelos anos de luta e experimentado em longos exercícios da vida, reflexionava, comparando Seus ditos aos escritos do Tora.

Simão e André deixaram as redes e seguiram-No ; Levi, que estava sentado na coletoria, convidado, levantou-se e O acompanhou. Depois, da multidão escolheu os demais, separando-os para a Sua seara: Felipe, Bartolomeu, Tomé, Tadeu, Simão, o Zelotes, Tiago, filho de Alfeu e Judas Iscariotes.. .

* * *

Escutaram-No há pouco, e a mensagem das bem-aventuranças ecoava docemente nas suas almas. Jamais alguém dissera o que Êle disse e como o disse.

Flutuavam no leve ar as nobres expressões e nos rostos aflitos dos ouvintes o contágio sublime da Sua voz realizara inesperadas transformações.

Todas aquelas gentes vieram ao monte para receberem o largo quinhão das Suas dádivas e estavam fartas: sorriam, e a esperança salmodiava hinos de paz nos seus corações sofridos. Retornavam, agora, aos lares, invadidos pela magia incomum do Seu verbo. Jamais deixariam de ecoar aquelas promessas de vida nas quebradas dos tempos e de repercutirem na acústica das almas.

Ali estavam eles, agora, a sós com Êle.

Chamara-os à parte e com o acento tocante da Sua poesia, reunira-os em torno da Sua pessoa.

As estrelas espiam do engaste sombreado em que tremeluzem no alto e vertem pranto argênteo.

O buliçoso sacudir das ramagens na aragem que perpassa mistura a Sua às vozes do anoitecer.

Flutuando sobre o lago, nele se refletindo, o disco solar no poente de fogo e ouro incendeia a Natureza.

O calor esmaece e um magnetismo envolvente domina, superando as manifestações exteriores.

O Estatuto da felicidade foi apresentado e novos artigos como corolários dos primeiros são aditados.

Por fim, embargado pela emoção, o Rabi, com as vestes claras bordadas pelo ouro da refulgência crepuscular, esclarece:

"Tendes ouvido que foi dito: "Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo". Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos de vosso Pai que está nos céus, porque Êle faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos." (*)

"Que ensinamento é este?!, — interrogam-se no âmago da alma surpresa. — E reflexionam: "A Lei é severa: "olho por olho, dente por dente". A alguém que prejudicou, tem o direito a sua vítima de cobrar a sevícia com a mesma intensidade.

Como se poderá unir o amigo e o inimigo no mesmo abraço ! Ajudar o adversário qual se êle fosse companheiro' — eis algo impossível..."

O Mestre os fita enternecido e os embriaga de docilidade.

O homem mau, parece dizer, está enfermo e o adversário infeliz caminha para a loucura.

Será crível atirá-los no fosso de misérias maiores?

Descerrando os lábios, indiferente ao surdo amor deles, prossegue:

"Pois se amardes aos que vos amam, que recompensa tendes? não fazem os publicanos também o mesmo? se saudardes somente aos vossos irmãos que fazeis de especial? Não fazem os Gentios também o mesmo? sede vós, pois, perfeitos, como vosso Pai Celestial é perfeito." (1)

É um desafio ousado aquele programa.

Esse Estatuto certamente regerá o Reino a que Êle se refere.

As lágrimas rebentam nos seus olhos e correi silenciosas pelas faces. As emoções mais sutis os dominam.

Amar para adquirir a perfeição.

Construir a diferença no íntimo para não serem iguais aos maus. Essa diferença é quase um nada e é tudo: o amor aos inimigos!

A "regra de ouro" para a Humanidade se impõe como o fundamento essencial do novo Reino que Êle vem instalar na Terra.

Já não há equívocos. Os outros eram reinos levantados sobre os despojos dos vencidos, que se transformavam em adubo fecundante, quando não se faziam veículos de pestes dizimadoras. O forte esmagava o fraco e se apresentava como se fora mais forte. A uzura se armava de ambição e marchava sob o comando da impiedade para dominar.

Amar! Amar mesmo os inimigos para instaurar a Era da Misericórdia que precederia a do amor real.

Os primeiros artigos do Estatuto apresentado eram preceitos simples, temas de conversas das margens dos lagos e da boca das lavadeiras nos ribeirinhos cantantes.

Conviver e amar os adversários e não lhes resistir por meio da violência. . .

Êle viveria, durante todo o Seu ministério, aquela regra. Daria a vida. Cumpriria a Lei.

* * *

Eles quase pertenciam às mesmas famílias. Nascidos e crescidos ali às margens do lago, se conheciam.

André e Simão, com sobrenome Cephas ou Pedro, eram ambos filhos de Jonas, nascidos em Betsaida, residentes, porém, há muito em Cafarnaum.

João e Tiago, — os "filhos do trovão", como o Senhor os chamava — descendiam ,de Zebedeu e Salomé, que Lhe foi fiel até o Gólgota; Felipe era de Betsaida; Natanael ou Bartolomeu, filho de Ptolomeu, provinha de Cana; Simão, o Zelotes, viera de Canaan; Tomé ou Dídimo, por ser gêmeo, era descendente de um pescador de Dalmanuta; Tiago, o Moço, Judas Tadeu, seu irmão e Mateus Levi, o ex-publicano, eram filhos de Alfeu e Maria de Cleofas, parenta de Maria, Sua mãe, nazarenos todos, eram primos afetuosos e passavam como "seus irmãos"; e Judas, filho de Simão, originário de Kerioth, a pequena cidade da extremidade sul de Judá.. . Eis o grupo.

Todos galileus, menos Judas. ..

Eram os membros que participavam da fundação do Reino e recebiam as Leis que o deveriam reger. Todos seriam irmãos, mensageiros, "apóstolos" — "que são enviados"!

O ar perfumado dos longes campos chega e a transparência colorida do céu em poente comove.

Eles se dobram sobre as próprias necessidades e raciocinam.

O Rabi silencia. Reino de Amor!

Lançadas suas bases, deveria resistir até os confins dos séculos.

Preservando a regra áurea do amor, Tiago, o moço, foi arrojado do pináculo do Templo e apedrejado até a morte. ..

Bartolomeu, ouvindo n’alma a musicalidade do amor, sofreu o martírio e morreu na cruz de cabeça para baixo, após ser esfolado vivo.

Judas Tadeu, esparzindo aquele pólen de amor, doou a vida na Arménia, sob flechadas cruéis.

André, crucificado, e Felipe, martirizado, permaneceram amando.

Simão, o Zelotes, amando, deixou-se crucificar na Pérsia em singulares traves.. .

Tomé, o Dídimo, renovado, crente e amoroso, padeceu o golpe de uma lança, na índia, oferecendo-Lhe a vida...

Tiago teve decepada a cabeça, fiel ao amor, na Casa do Caminho...

Mateus, também, amoroso, consentiu em ser martirizado...

Pedro, esfuziante, dominado pelo milagre do amor, permitiu-se crucificar em Roma...

O tributo do amor — não resistir aos maus!

Do grupo híbrido sai a Nova Humanidade a renovar e modificar a Terra.

"Amai os vossos inimigos" e doai o bem a quem vos faça o mal — enunciara.

O Reino de Deus chegara à Terra dos homens e confraternizava com eles, em nome do Amor.


Amélia Rodrigues

Divaldo Pereira Franco, do Livro Luz do Mundo

Se somos Luz

Senhor da Vida,

Tu és Luz e nós viemos de ti,

Por isso também somos Luz, na essência mais íntima do nosso ser.

Só que essas claridades ainda se encontram adormecidas aguardando o nosso crescimento espiritual, afim de começarem a brilhar em nós.

Então te pedimos, ajuda-nos em nosso crescimento interior,

Na vigilância e no controle que devemos ter com nossos pensamentos, palavras, emoções e ações, afim de que vibrem o mais possível no esplendor das tuas leis, no amor universal que emana de ti.

Guarda-nos, Senhor da vida em tua luz.


Saara Nousiainen

Um mergulho profundo

ABISMO

Quero absorver intensamente toda a tristeza do mundo
As esperanças não alcançadas
Os filhos que não nasceram
O pranto das mães desconsoladas...
Quero sentir profundamente toda a dor
A dor de não ter amor, não ter paz,
Não ter futuro.
Pelo trabalho rotineiro de cada dia
A comida sem graça e fria
A desigualdade, a injustiça, o olhar distante,
A dor, toda a dor da infelicidade.
Quero aguardar a catástrofe silenciosamente
Com o meu cansaço estafante e descomedido
Pelo excesso das palavras, das mentiras, das ilusões
Dos pesadelos, tantos.
O horizonte se distanciando... longe... longe.
Quero chorar muito... Quero chorar muito
Sem nenhum constrangimento
Sem parar, sem parar.
Quero ser tragado pela realidade
E me esconder na sombra da minha insignificância
Para que num momento distante – se houver,
Eu possa despertar para um mundo
Agradável e melhor.

(Nilson Oliveira)

“A fórmula da felicidade está no sonho”...

Sonhar e confiar
Tem o poder de levar
Aonde a motivação determinar
Seguindo vários caminhos
Até conquistar os objetivos
Mesmo caminhando devagar
No fim do infinito pode chegar
Mas primeiro tem que acreditar

Na escada da vida
Cada degrau é um dia
Continue a andar
O tempo nunca vai esperar
Mesmo ao adormecer e sonhar
Que é possível voar e voltar
Pra trajetória tentar mudar
Pro o erro concertar
E outra vez reiniciar
Antes de o fim chegar

Infelizmente ao amanhecer
Todos podem perceber
Que tudo era ilusão
Sonhar é a segunda visão
A verdade esta na retina
Hoje é um novo dia
Existe uma barreira imaginaria
Que às vezes separa
O sonho da realidade
E o que será verdade
Pra quem vive em ambas as partes
Aguardando o fim da eternidade

Com criatividade e arte
Momentaneamente em insanidade
Alguém achou a fórmula da felicidade
Que não esta em nossas mãos
Muito menos na visão
Mas sim na própria mente e coração
Pra tão buscada felicidade encontrar
Tem que sonhar com fé e acreditar.

Autor: Roberto Fabrício

Felicidade

Meu nome é felicidade.
Faço parte da vida daqueles que tem amigos, pois, ter amigos é ser feliz.
Faço parte da vida daqueles que vivem cercados pôr pessoas como você, pois viver assim é ser feliz.
Faço parte daqueles que acreditam que “ontem é passado, amanhã é futuro e hoje é uma dádiva” por isso chamado presente.
Faço parte daqueles que acreditam na força do amor, que acreditam que para uma história bonita não há ponto final.
Eu sou casada, sabiam? Sou casada com o Tempo. Ah! O meu marido é lindo! Ele é responsável pela resolução de todos os problemas, ele reconstrói corações, ele cura machucados, ele vence a tristeza...

Juntos, eu e o tempo, tivemos três filhos: a Amizade, a Sabedoria e o Amor.
A Amizade é a filha mais velha. Uma menina linda, sincera e alegre. A Amizade brilha como o sol, a amizade une as pessoas, pretende nunca ferir, sempre consolar.
A do meio é a sabedoria, culta, integra, sempre foi mas apegada ao pai, o Tempo. A Sabedoria e o Tempo andam sempre juntos!
O caçula é o Amor. Ah! Como esse me dá trabalho! É teimoso, às vezes só quer morar em um lugar... Eu vivo dizendo: Amor, você foi feito para morar em dois corações, não em apenas um. O amor é complexo, mais lindo ,muito lindo!

Quando ele começa a fazer estragos , eu chamo logo o pai dele, o Tempo e aí o tempo sai fechando as feridas que o Amor abriu.
Uma das pessoas mais importantes me ensinou uma coisa: Tudo no final sempre dá certo, se ainda não deu é porque não chegou o final.
Por isso, acredito sempre na minha família. Acredite no Tempo, na Amizade, na Sabedoria e principalmente, no Amor. Aí quem sabe um dia Eu, a Felicidade, não bato na sua porta?!!!

Postado por Raí

Libelo

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar - e um barco com o nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar?

E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão
de suas mãos, uma pro caniço, outra pro queixo, que é para ele poder se
perder no infinito, e uma garrafa de cachaça pra puxar tristeza, e um pouco
de pensamento pra pensar até se perder no infinito...

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de terra -- um pedaço bem
verde de terra -- e uma casa, não grande, branquinha, com uma horta e um
modesto pomar; e um jardim - que um jardim é importante - carregado de flor
de cheirar ?

E enquanto morando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão
de suas mãos para mexer a terra e arranhar uns acordes de violão quando a
noite se faz de luar, e uma garrafa de uísque pra puxar mistério, que casa
sem mistério não vale morar...

De que mais precisa um homem senão de um amigo pra ele gostar, um amigo bem
seco, bem simples, desses que nem precisa falar -- basta olhar -- um
desses que desmereça um pouco da amizade, de um amigo pra paz e pra briga,
um amigo de paz e de bar ?

E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão
de suas mãos para apertar as mãos do amigo depois das ausências, e pra
bater nas costas do amigo, e pra discutir com o amigo e pra servir bebida à
vontade ao amigo ?

De que mais precisa um homem senão de uma mulher pra ele amar, uma mulher
com dois seios e um ventre, e uma certa expressão singular ? E enquanto
pensando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de um
carinho de mulher quando a tristeza o derruba, ou o destino o carrega em
sua onda sem rumo ?

Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher -- as
únicas coisas livres que lhe restam para lutar pelo mar, pela terra, pelo
amigo ...


(Vinícius de Moraes)

Os Evangelistas

Mateus (nome grego, Matháios, que significa dom de Deus, o mesmo que Teodoro). Seu nome em hebraico era Levi. Diz Papias que Mateus reuniu os Logía de Jesus (ou seja, os discursos) , e cada um os traduziu como pôde do hebraico em que tinham sido escritos. Todavia, jamais foi encontrada nenhuma citação de Mateus em hebraico, nem mesmo em aramaico.

Com efeito, em hebraico é que não escreveu ele, já que desde 400 anos antes de Cristo o hebraico não era mais falado, e sim o aramaico, que é uma mistura de hebraico com siríaco. Parece, pois, que Papias não tinha informação segura.

Um argumento em favor do hebraico ou aramaico de Mateus original são seus numerosíssimos hebraísmos. Entretanto, qualquer tradutor teria o cuidado de expurgar a obra dos hebraísmos. Se eles aparecem em abundância, é mais lógico supor-se que o autor era judeu, e escrevia numa língua que ele não conhecia bem, e por isso deixava escapar muitos barbarismos. Supõe-se que Mateus haja escrito entre os anos 54 e 62.

Dirige-se claramente aos judeus (basta observar as numerosas citações do Velho Testamento e o esforço para provar que Jesus era o Messias prometido aos judeus pelos antigos Profetas). Mateus mostrasse até irritado contra seus antigos correligionários.

Marcos, ou melhor, João Marcos, era sobrinho de Pedro. O nome João era hebraico, mas o segundo nome Marcos era puramente latino. Não deve admirar-nos esse hibridismo, sabendo-se que os romanos dominavam a Palestina desde 70 anos antes de Cristo, introduzindo entre o povo não apenas a língua grega, como os nomes latinos e gregos. (Os romanos impuseram a língua latina às conquistas do ocidente e a grega às do oriente, daí o fato de falar-se grego na palestina desde 70 anos antes de Cristo, por coação dos dominadores) .

Marcos escreveu entre 62 e 66, e parece que se dirigia aos romanos, tanto que não vemos nele citações de profecias; apenas uma vez (e duvidosa) cita o Velho Testamento. Mais: se aparece algo de típico dos costumes judaicos, Marcos apressa-se a esclarecer, explicando com pormenores o de que se trata, como estando consciente de que seus leitores, normalmente, não no perceberiam.

Lucas, abreviatura grega do nome latino Lucianus, não tinha sangue judeu: era grego puro, de nascimento e de raça. Escreveu em linguagem correta, entre 66 e 70, interpretando o pensamento de Paulo a quem acompanhava nas viagens apostólicas, talvez para prestar-lhe assistência médica, pois o próprio Paulo o chama médico querido. (cfr. 2.a Cor. 12:7) .

Todo o plano de sua obra é organizado, demonstrando hábito de estudo e leitura e de pesquisa.

João, chamado também o discípulo amado, e mais tarde o presbítero, isto é, o velho. Filho de Zebedeu, e portanto primo irmão de Jesus, acompanhou o Mestre no pequeno grupo iniciático, com seu irmão Tiago e com Pedro.

Clemente de Alexandria diz ter João escrito o Evangelho Pneumático. Sabemos que pneuma significa Espírito. Então, é o Evangelho espiritual. Em que sentido? Escrito por um Espírito ? Pneumografado ? Tal como hoje dizemos psicografado ? João escreveu entre 70 e 100, tendo desencarnado em 104.

Seu estilo é altaneiro, condoreiro e seu Evangelho está repleto de simbolismos iniciáticos, tendo dado origem a uma teologia. Linguisticamente, Lucas é o mais correto e Marcos o mais vulgar testando Mateus e João escritos numa linguagem intermediária.


Carlos Torres Pastorino, do livro “Sabedoria do Evangelho”.

Diversos Sentidos

Cada Escritura pode apresentar diversas interpretações, no mesmo trecho. A vantagem disso é que, de acordo com a escala evolutiva em que se acha a criatura que lê, pode a interpretação ser menos ou mais profunda.

Os principiantes compreendem, de modo geral, a letra e a ela se apegam. Mas, além do sentido literal temos o alegórico, o simbólico e o espiritual ou místico.

O sentido alegórico faz extrair numerosas significações de cada representação, compreendendo, por exemplo, a história de Abraão como uma alegoria das relações entre a matéria e o espírito.

A interpretação simbólica é mais elevada: dá-nos a revelação de uma verdade que se torna, digamos assim, transparente e visível, através de um texto que a recobre totalmente; basta-nos recordar a “cruz”, para os cristãos: é um símbolo muito mais profundo, que os dois pedaços de madeira superpostos.

A interpretação espiritual é aquela que dificilmente poderá ser expressa em palavras, mas é sentida e vivida em nosso eu mais profundo, levando-nos, através de certas palavras e expressões, à união mística com a Divindade que reside dentro de nós. Quase sempre, a compreensão espiritual ou mística da Escritura leva ao êxtase, e, portanto à Convivência com o Todo.


Carlos Torres Pastorino, do livro “Sabedoria do Evangelho”

Minutos com Pastorino

Levante sua cabeça!

Não fique triste!

Porque vai aborrecer-se, pelo que disseram de você?

Por quanto tempo continuará queixando-se, reclamando?

Vamos, levante sua cabeça e siga em frente!

Você é filho de Deus!

Caminhe seguro, porque aqueles que falam de você vão ficar parados atrás, sem progredir.

E quando eles perceberem, você já progrediu tanto, que eles o perderam de vista...


* * * * *


Não dê importância à idade de seu corpo físico: seja sempre jovem e bem disposto espiritualmente.

A alma não tem idade.

A mente jamais envelhece.

Mesmo que o corpo assinale os sintomas da idade física, mantenha-se jovem e bem disposto, porque isto depende de sua mentalização positiva.

Faça que a juventude de seu espírito se irradie através de seu corpo, tenha ele a idade que tiver.

* * * * *

Você, que se acha enfermo, preso a um leito de dor, não desanime!

A doença não é um mal, pois é através da enfermidade que nos libertamos das vibrações grosseiras dos maus pensamentos, das más palavras e das más ações.

Suporte com paciência sua enfermidade, porque por meio dela se está purificando o organismo psíquico, sua alma, que só pode expulsar as impurezas por meio das doenças físicas.

* * * * *

Não se deixe abater pelo desânimo!

Não queira jamais abandonar a vida, porque isto nada resolve, e agravará ainda mais seus sofrimentos.

Se você pensa que, fugindo, se sentirá aliviado, engana-se redondamente!

Não se vingue dos outros, fazendo mal a si mesmo!

Reaja com todas as suas forças, e não se deixe esmagar pela incompreensão alheia.


* * * * *

Toda a natureza é uma harmonia divina, sinfonia maravilhosa que convida todas as criaturas a que acompanhem sua evolução e progresso.

Seja, em sua vida, um instrumento apto a captar as vibrações de paz e serenidade da natureza, e sua saúde encontrará o equilíbrio necessário a prosperar cada vez mais.

Viva de acordo com as leis da natureza, e com o espírito voltado para Deus.


* * * * *

Seja fiel no cumprimento de todos os seus deveres.

Execute com capricho e amor todas as tarefas que recebe, embora pareçam insignificantes.

Qualquer coisa que esteja fazendo, por menor que seja, é um passo à frente em seu progresso.

Realize suas tarefas todas, como se delas dependesse - como de fato depende - todo o seu futuro.


* * * * *

Não pare jamais de trabalhar para o bem!

Cada vez que paramos, nossa alma começa a ficar na rigidez cadavérica.

A alma inativa morre de tédio e cansaço.

Não deixe que seu espírito se enfraqueça na inação.

Viva alegre e entusiasta e empregue todas as suas forças na plantação do bem, do amor, do carinho no coração daqueles que o cercam na vida.


Carlos Torres Pastorino, do livro “Minutos de Sabedoria”.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

EDUCAÇÃO

LUTO NA EDUCAÇÃO


Luto
Pelas muitas horas que se foram
Sem que pudéssemos compartilhar
Com familiares e entes queridos?

Luto
Pelos colegas que migraram
Em busca de melhores salários
Em outro estado ou município?

Luto
Pelo respeito e admiração
Pelo trabalho do professor
Em tempos idos,
E hoje, extintos?

Luto
Por aqueles que ao invés de abraçar a causa
Preferem negá-la e se omitirem
Em troca de favoritismos?

Luto
Pelos alunos que apesar do nosso empenho
Em orientá-los quanto á valorização dos bons princípios
Tiveram sua juventude ceifada
Pela dura realidade de sua vivência diária?

Luto
Pelo tempo e finanças aplicados
Na graduação e especialização
Que tanto favorecem nossa formação
Pouco acrescentando ao nosso reembolso?

Luto
Pelas noites em claro, estudando,
Na expectativa de um emprego efetivo
Por acreditar que assim
Nossas necessidades seriam supridas?

Luto
Pelos ideais julgados possíveis
Hoje, vistos como utopia,
Diante dos fatos sociais?

Luto
Por sermos responsabilizados pelo fracasso
Mas dificilmente reconhecidos
Quando há êxito e contemplação?

Luto
Pelos colegas que permitem
Que tais fatores interfiram
Em sua prática educacional?

LUTO! LUTEM! LUTEMOS!
Talvez, assim, um dia
Possamos substituir
A impotência do substantivo LUTO
Pela conquista do verbo LUTAR!



Elizabete Ribeiro

"O menino das meias vermelhas"

O nome dele era complicado, passou a primeira semana sem que ninguém o chamasse para brincar. Até que repararam que sempre usava meias vermelhas e ele ficou sendo o "menino das meias vermelhas". Viva pelos cantos, quase não falava, quase não existia. Apesar disso, não parecia infeliz. Era apenas solitário: era o Menino das Meias Vermelhas.

Um dia lhe perguntaram: " Menino das Meias Vermelhas, por que você sempre usa meias vermelhas?" Ele respondeu como se não fosse com ele: "No dia dos meus anos, minha mãe levou-me ao circo e colocou-me meias vermelhas. Eu reclamei, com aquelas meias chamaria a atenção dos outros, todos zombariam de mim. Mas ela explicou: 'É que lá vai Ter muita gente, se eu me perder de você, olharei para baixo e será fácil encontrá-lo"

E todos os dias lá vinha o Menino de Meias Vermelhas com suas meias vermelhas, com seu silêncio, sua solidão, como se esperasse alguma coisa ou como se tudo já houvesse acontecido com ele. Ninguém dava mais importância ao menino nem às suas meias vermelhas. E era isso o que ele parecia desejar.

Sentava em cima de uma pedra, nos fundos do campo onde os outros jogavam pelada ou soltavam pipas. Até que veio a tarde de chuva e os meninos não puderam jogar pelada nem soltar pipas. Como distração resolveram provocar o Menino das Meias Vermelhas.

"Você não está no circo" Tire essas meias vermelhas, elas são ridículas!"

O Menino das Meias Vermelhas não ficou aborrecido. Depois de algum tempo falou, como se falasse consigo mesmo: "Eu vou continuar usando meias vermelhas. É que minha mãe foi embora. Um dia, talvez ela passe por mim em algum lugar, verá minhas meias vermelhas e me reconhecerá."

O sol apareceu de repente e os outros meninos foram jogar pelada e soltar pipas.


(Calos Heitor Cony)

Libelo

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar - e um barco com o nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar?

E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão
de suas mãos, uma pro caniço, outra pro queixo, que é para ele poder se
perder no infinito, e uma garrafa de cachaça pra puxar tristeza, e um pouco
de pensamento pra pensar até se perder no infinito...

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de terra -- um pedaço bem
verde de terra -- e uma casa, não grande, branquinha, com uma horta e um
modesto pomar; e um jardim - que um jardim é importante - carregado de flor
de cheirar ?

E enquanto morando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão
de suas mãos para mexer a terra e arranhar uns acordes de violão quando a
noite se faz de luar, e uma garrafa de uísque pra puxar mistério, que casa
sem mistério não vale morar...

De que mais precisa um homem senão de um amigo pra ele gostar, um amigo bem
seco, bem simples, desses que nem precisa falar -- basta olhar -- um
desses que desmereça um pouco da amizade, de um amigo pra paz e pra briga,
um amigo de paz e de bar ?

E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão
de suas mãos para apertar as mãos do amigo depois das ausências, e pra
bater nas costas do amigo, e pra discutir com o amigo e pra servir bebida à
vontade ao amigo ?

De que mais precisa um homem senão de uma mulher pra ele amar, uma mulher
com dois seios e um ventre, e uma certa expressão singular ? E enquanto
pensando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de um
carinho de mulher quando a tristeza o derruba, ou o destino o carrega em
sua onda sem rumo ?

Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher -- as
únicas coisas livres que lhe restam para lutar pelo mar, pela terra, pelo
amigo ...


(Vinícius de Moraes)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Mundo grande

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.

Carlos Drummond

ADOTAREI O AMOR

.
Adotarei o amor por companheiro
e o escutarei cantando, e o beberei como vinho,
e o usarei como vestimenta.

Na aurora, o amor me acordará
e me conduzirá aos prados distantes.
Ao meio dia, conduzir-me-á à sombra das árvores
onde me protegerei do sol como os pássaros.
Ao entardecer conduzir-me-á ao poente,
onde ouvirei a melodia da natureza
despedindo-se da luz, e contemplarei
as sombras da quietude adejando no espaço.
À noite, o amor abraçar-me-á,
e sonharei com os mundos superiores
onde moram as almas dos enamorados e dos poetas.

Na Primavera, andarei com o amor, lado a lado,
e cantaremos juntos entre as colinas;
e seguiremos as pegadas da vida,
que são as violetas e as margaridas;
e beberemos a água da chuva,
acumulada nos poços,
em taças feitas de narciso e lírios.
No Verão, deitar-me-ei ao lado do amor
sobre camas feitas com feixes de espigas,
tendo o firmamento por cobertor
e a lua e as estrelas por companheiras.

No Outono, irei com o amor aos vinhedos
e nos sentaremos no lagar,
e contemplaremos as árvores se despindo
das suas vestimentas douradas
e os bandos de aves migratórias
voando para as costas do mar.

No Inverno, sentar-me-ei com o amor
diante da lareira e conversaremos
sobre os acontecimentos dos séculos
e os anais das nações e povos.

O amor será meu tutor na juventude,
meu apoio na maturidade,
e meu consolo na velhice.
O amor permanecerá comigo até o fim da vida,
até que a morte chegue,
e a mão de Deus nos reúna de novo.

Kalil Gibran

Palavras...

PALAVRAS APENAS PALAVRAS

Havia tanto para se ouvir, aprender e a falar
Palavras que ficaram soltas sem a intencao de machucar.

Palavars apenas palavras...

Palavras perdidas que tambem nao conseguiamos falar
Foi assim o nosso tempo... e talvez essas palavras se perdurem ainda por muito tempo.

Porque foram palavras apenas palavras...

E e nesse tempo que no nosso passado deixamos passar, as palavras que deixamos de pronunciar.
As vezes me pego com meu pensamento tao distante imaginando que vc esta a me olhar.
E engracado, porque sinto como se voce soubesse de todas as minhas angustias, alegrias e duvidas.
Sera? sera mesmo que voce esta a me olhar?
Essa e uma pergunta para qual nao tenho sequer uma unica resposta, apenas imaginacoes.
Imaginacoes que muito me confortam...
Primeiramente por saber que ainda estamos proximos
Segundo porque e notavel todo o meu arrependimento de todas as palavras soltas e perdidas no tempo
Terceiro porque tambem deves ter percebido quanto tempo deixamos passar.

Palavars apenas palavras...

Sera mesmo que um dia ainda iremos nos encontrar?
Aiai...imaginacao para esse momento e o que nao me falta.
Sera o dia mais belo...o mais belo de toda nossa vida
Tera um abraco e sera o mais forte de todos que ja demos
E essas palavras que em nosso tempo ficaram soltas e perdidas no tempo.
Elas ja nao mais existiram, sabe porque?
Porque ai, diferente daqui, PALAVRAS SAO APENAS PALAVRAS.

Laci F. B. Sa

Irretocável

"Tenho cabelos vermelhos, pintados, para esconder os fios brancos.
Não me lembro exatamente em que ano eles começaram a branquear...
Tenho algumas rugas em volta dos olhos, também não me recordo quando elas começaram a aparecer.
Tento disfarçá-las, tantas novidades no campo da dermatologia, achei por bem aproveitá-las.
Do corpo não cuido quase, só recentemente entrei para uma academia por ordem médica.
Ele me disse que na minha idade preciso de exercícios.
Mais falto mais do que vou, não gosto de fazer ginástica.
Das minhas unhas cuido semanalmente, penso que elas são uma porta de visita.
Unhas maltratadas causam uma péssima impressão.
De uns dois anos pra cá descobri os cremes e aí compro um aqui, outro ali e no final não uso nenhum, mas compro, só de olhá-los na prateleira já percebo que as rugas se retraem.
Sou assim, vaidosa, mas não sou em excesso, penso que sou na medida certa, na medida correta para uma mulher.
Enfim os anos passam e as marcas que eles deixam em nós, não temos como conter.
Nem pretendo isso.
Acho que cada marca que meu corpo carrega tem uma linda história.
Às vezes me pego na frente do espelho descobrindo uma nova ruguinha e já me coloco a pensar o que a causou.
Depois reencontro com outra que já está lá vincada há anos e me recordo que ela apareceu quando perdi um grande amor.
Poderia enumerar também a história de cada fio de cabelo branco.
Foram filhos, maridos, amigos que colocaram eles ali.
Não quero me desfazer de nenhuma dessas marcas, apenas amenizá-las, acho que mereço isso.
A vida me deve isso.
Atualmente a parte que merece mais atenção minha tem sido a cabeça.
Tento todos os dias colocá-la no lugar, equilibrá-la, alimentá-la com sonhos e alegrias.
Corpo e mente caminham juntos, se um estiver em estado lastimável o outro provavelmente vai se deteriorar.
Não escondo minha idade, não adiantaria falar que tenho trinta e cinco e apresentar uma filha de vinte e sete.
Portanto eu confesso, tenho quarenta e tantos anos...
Metade deles, bem vividos, a outra metade muito sofridos.
Mas é exatamente aí que está o encanto da minha idade.
Conheci de tudo um pouco, das lágrimas aos sorrisos e ambos me fizeram ser essa pessoa que sou hoje.
Ficaram as rugas no rosto e na alma, mas também ficaram sorrisos em ambos.
Minhas rugas mais bonitas são aquelas marcas de expressão que eu adquiri por tanto sorrir, muitas vezes, quando o coração chorava."

(Irretovável - Silvana Duboc)

PARODIANDO

O que eu amo em ti
não é esse jeito de cereja
e esse olhar de seis da tarde
não é essa mania de andar bolerodiando
nem mesmo a tua educadez
O que eu amo em ti
não é essa tua boca de vinho
nem o teu piano. Tocas. E nem é isso.
Os livros que leste, nem mesmo
o que sabes ou não sabes
Não é tampouco o teu ambicionismo
ou teu traço de desenho ou o compasso.
Nem teu andando em lenta marcha vagarosa
nem a doçura, a ternura, a candura,
a loucura, a pura frescura tua de alface...
nem mesmo teu cheiro de alface
teu cheiro de ar com um resto de perfume
nem teu carro (com ar condicionado)
nem teu cachorro
não, não é nem isso que eu amo em ti.
O que eu amo em ti
não é a tua preguiça esticada ao sol
emsombreada de impressionismo
não são os silêncios de que és feito
nem o instante que povoas
ou o mistério que às vezes te povoa,
Não é esse ar letárgico, trágico, trístico,
tanguístico, místico com que te sentas na cadeira
ou acendes um cigarro
somente para por um pouco de fumaça
entre ti mesmo e o mundo
Não é tua voz irônica e sábia
que me preenche os brancos da cabeça
nem mesmo tua cabeça ou tua espiritualidade
ou tua força, tua certeza ou tua fragilidade
Acaso tua beleza? Não, nem é isso.
Nem mesmo o que eu amo em ti
é a tua gargalhada
que transpassa meu ouvido
cheia de espuma e sol de agosto
com gosto de aventura
ou o teu beijo
que cada vez me sabe a uma coisa
mas é sempre tão beijável.
Não é teu jogo de tênis (tão branco de propaganda)
recortado no horizonte,
nem teu corpo plástico, elástico, cheio de fluxos
e de percursos de vibração.
Não é bem isso.
Nessa sucessão constante de agoras
o que eu amo em ti
não é o que refletes de improviso
nem é o inesperável
nem o superalgo

O que eu amo em ti
...são as rugas, meu amor, as rugas...

..Bruna Lombardi

A vida barulhenta

A vida barulhenta
é trocada pela voz de seu coração.
Quando as palavras se calam no seu interior, você experimenta a sensação do divino.
As noites agitadas, de quem não quer perder nada, são substituídas por encontros mais tranqüilos dentro de sua alma.

Viver o silêncio de seu ser consiste em esvaziar seu coração de todos os desejos,
pensamentos, fantasias, tudo o que você guardou dentro de si, e deixar um espaço
para sua alma se expressar sutilmente.

Entender palavras é muito fácil, mas você
experimentará o perfume da vida quando compreender os milagres que acontecem
quando um olhar encontra silenciosamente
o olhar de outra pessoa.

Você conhece a verdadeira amizade
quando as palavras não são necessárias
e consegue perceber a beleza da lua encontrando o sol.

Seu interior tem muito mais a dizer do que todo o noticiário dos jornais.
Seu ser tem mais força do que todas as imagens das novelas.
Quando acontece o silêncio, você não tem
mais nada para provar.


Roberto Shinyashiki.

O que você pode fazer?

O que você pode fazer, seja em qualquer situação, faça, e faça-o agora, de preferência ainda hoje.
Mas, o que você não pode resolver, aquilo que não tem uma aparente solução entregue nas mãos de quem pode trazer uma luz.
Eu, por exemplo, elegi Deus como mediador dos meus maiores problemas, e Ele, como Pai amoroso que é aceitou a incumbência e tem me dado respostas para cada um dos problemas, e o melhor, não me julga, nem condena, nem pede referências, Ele me conhece profundamente,
sabe dos meus erros, valores e necessidades.
O Problema é que cada situação requer um certo tempo, e nós, na velocidade do e-mail, não conseguimos enxergar essa necessidade de um tempo certo para cada coisa, e queremos soluções prontas, ágicas, milagres.
Entenda que um pai que ama o seu filho que cometeu um delito grave perante a lei dos homens, deve aguardar que o filho cumpra a sua pena, e amorosamente, fazer de tudo o que for possível para que ele cumpra a sua pena de maneira digna e que saiba que alguém o espera quando acabar de pagar o que deve.
Ninguém pode viver a vida do outro, uma mãe por mais que queira não pode assumir a doença do filho amado, pode cuidar, passar noites em claro, vigiar, orar, pagar médicos,
mas a doença é do filho e ele deve vence-la.
Entende?
Deus não fechou os ouvidos para os seus pedidos, continue pedindo...
Ele avalia o tempo certo de receber ou não, mas de qualquer maneira, sua oração toca uma sirene no céu, avisando ao Pai que você precisa dele, e Ele dá ordens aos seus anjos para que
velem por você, que te ajudem, da melhor maneira possível.
Por isso, se você tem uma grande dificuldade neste dia, ore com fé, repita sua oração quantas vezes forem necessárias para uma solução.
Acalme seu coração e confie, isso é fé, e fé é a maior arma que nós dispomos na terra para mudar qualquer situação.



Paulo Roberto Gaefke

ENGANAR-SE

Todo mundo se engana um dia ou outro,
mas ninguém gosta de admitir.
Admitir para os outros, dói.
Mas admitir para si mesmo é ainda pior.
Enganar-se é mentir-se e nem sempre estamos
conscientes de que nosso mundo,
ou o que vivemos, é bem real.
Perdemos um tempo enorme lutando pelas
nossas idéias, nossas crenças,
nosso amor e chega um dia que precisamos
baixar os braços.
A realidade muitas vezes chega de forma brutal e
se joga sobre nós sem piedade.
É nesses momentos que o mundo perde todo o sentido,
que queríamos fechar os olhos e tentar fazer com que nada tivesse acontecido, queríamos dormir e dormir até que pudéssemos acordar para chegar à conclusão que
tudo não passou de um pesadelo.
Pior mesmo é quando se trata de amor.
Acreditamos cegamente no sentimento e defendemos
uma pessoa de todo nosso ser, nos sentimos capazes
de morrer por ela, nos colocamos contra o mundo todo
e depois temos que admitir que nos enganamos.
Essa descoberta nos paralisa, paralisa nossos
sonhos e nossos sentidos.
Bloqueia nosso coração.
Só mesmo depois de muitas lágrimas derramadas
e noite mal dormidas é que conseguimos colocar
nossas idéias em ordem.
E ainda assim tentamos achar desculpas,
razões que justifiquem nossa cegueira,
nosso erro,
nosso engano.
Mas não há justificativas.
Todo mundo erra e isso faz parte do nosso
aprendizado da vida.
Enganar-se, mesmo se doloroso, é humano.
Muitas vezes quando tropeçamos não caímos,
mas damos dois ou três passos à frente.
Na vida é a mesma coisa.
Uma pessoa que fracassa não é um fracassado por inteiro.
É apenas um ser humano com um coração infantil.
E se ele for capaz de ultrapassar essas barreiras e
dar a volta por cima, será um alguém rico
de experiências e que saberá melhor que qualquer
outra pessoa a fazer suas escolhas e ter o
discernimento para saber qual o melhor
caminho a tomar.

Letícia Thompson

Texto

"E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar...
Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las.
Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução.
Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis.
Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.
Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.
Naquele dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que enfrentá-las era a única e melhor forma de as superar.
Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tenha sido.
Deixei de me importar com quem ganha ou perde, agora, me importa simplesmente saber melhor o que fazer.
Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir.
Aprendi que o melhor triunfo que posso ter, é ter o direito de chamar a alguém de "Amigo".
Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento, "o amor é uma filosofia de vida".
Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser a minha própria tênue luz deste presente.
Aprendi que de nada serve ser luz se não vai iluminar o caminho dos demais.
Naquele dia, decidi trocar tantas coisas...
Naquele dia, aprendi que os sonhos são somente para fazer-se realidade.
E desde aquele dia já não durmo para descansar...
Agora simplesmente durmo para sonhar."
(Walt Disney)

"PRECISA-SE"

Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilarecerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

Clarice Lispector, A Descoberta do Mundo.

FILTRO SOLAR

Senhoras e senhores da turma de 2003:
Filtro solar!
Nunca deixem de usar o filtro solar
Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro
seria esta: usem o filtro solar!

Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão
provados e
comprovados pela ciência;
Já o resto dos meus conselhos não tem outra base confiável além

de minha
própria existência errante.
Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês.

Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da
juventude.
Ou, então, esquece... Você nunca vai entender mesmo o poder e a

beleza da juventude
até que tenham se apagado.
Mas, pode crer, daqui a 20 anos, você vai evocar as suas fotos
e
perceber de um jeito - que você nem desconfia hoje em dia -
quantas
tantas alternativas se lhe escancaravam à sua frente, E
e como você realmente estava com tudo em cima.
Você não está gordo! Ou gorda...

Não se preocupe com o futuro.
Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que
pré-ocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar
resolver uma
equação de álgebra
As encrencas de verdade de sua vida tendem vir de coisas que
nunca
passaram pela sua cabeça preocupada, e te pegam no ponto fraco
às 4 da tarde
de uma terça feira modorrenta

Todo dia, enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo mesmo.
Cante.

Não seja leviano com o coração dos outros.
Não ature gente de coração leviano.

Use o fio dental.
Não perca tempo com inveja.
Às vezes se está por cima,
às vezes por baixo.
A peleja é longa e, no fim,
é só você contra você mesmo.

Não esqueça os elogios que receber.
Esqueça as ofensas.
Se conseguir isso, me ensine.
Guarde as antigas cartas de amor.
Jogue fora os extratos bancários velhos.

Estique-se.

Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida
As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam, aos
vinte e dois
o que queriam fazer da vida.
Alguns dos quarentões mais interessantes que eu conheço ainda
não sabem.
Tome bastante cálcio.
Seja cuidadoso com os joelhos.
Você vai sentir falta deles.

Talvez você case, talvez não.
Talvez tenha filhos, talvez não.
Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas
bodas de diamante.

Faça o que fizer, não se auto-congratule de mais,
nem seja severo de mais com você.
As suas escolhas tem sempre metade de chance de dar certo.
É assim pra todo mundo.

Desfrute do seu corpo.
Use-o de toda a maneira que puder, mesmo.
Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam
achar dele.
É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.
Dance.

Mesmo que não tenha aonde além do seu próprio quarto.

Leia as instruções, mesmo que não vai segui-las depois.
Não leia revistas de beleza. Elas só vão fazer você se achar
feio.

Dedique-se a conhecer seus pais. É impossível prever quando eles

terão ido embora, de vez.
Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu
passado e
possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.
Entenda que os amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns
poucos e bons.
Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas e

de
estilos de vida, porque quanto mais velho você ficar, mais você

vai precisar
das pessoas que conheceu quando era jovem.

More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer.
More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer.

Viaje.

Aceite certas verdades inescapáveis:
Os preços vão subir. Os políticos vão saracotear.
Você, também, vai envelhecer.
E quando isso acontecer, você vai fantasiar que quando era
jovem,
os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes, e as
crianças
respeitavam os mais velhos.

Respeite os mais velhos.

E não espere que ninguém segure a sua barra.
Talvez você arrume uma boa aposentadoria.
Talvez case com um bom partido.
Mas não esqueça que um dos dois pode de repente acabar.
Não mexa demais nos cabelos senão quando você chegar aos 40 vai

aparentar 85.

Cuidado com os conselhos que comprar,
mas seja paciente com aqueles que os oferecem.
Conselho é uma forma de nostalgia.
Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo,
esfregá-lo,
repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.

Mas, no filtro solar, acredite.

Pedro Bial

Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já ...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida ...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais ...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam ...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por
quem sentir saudades, passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido ...

PABLO NERUDA

Semente e Fruto

..........................................
Despojada. Apedrejada.
Sozinha e perdida nos caminhos incertos da vida.
E fui caminhando, caminhando...
E me nasceram filhos.
E foram eles, frágeis e pequeninos,
carecendo de cuidados,
crescendo devagarinho.
E foram eles a rocha onde me amparei,
anteparo à tormenta que viera sobre mim.
Foram eles, na sua fragilidade infante,
postes e alicerces, paredes e cobertura,
segurança de um lar
que o vento da insânia
ameaçava desabar.
Filhos, pequeninos e frágeis...
eu os carregava, eu os alimentava?
Não. Foram eles que me carregaram,
que me alimentaram.
Foram correntes, amarras, embasamentos.
Foram fortes demais.
Construíram a minha resistência.
Filhos, fostes pão e água no meu deserto.
Sombra na minha solidão.
Refúgio do meu nada.
Removi pedras, quebrei as arestas da vida e plantei roseiras.
Fostes, para mim, semente e fruto.
Na vossa inconsciência infantil.
Fostes unidade e agregação.
..........................................
(Cora Coralina)

Caso de amor

Uma estrada é deserta por dois motivos: por abandono ou por
desprezo. Esta que eu ando nela agora é por abandono. Chega que os
espinheiros a estão abafando pelas margens. Esta estrada melhora muito
de eu ir sozinho nela. Eu ando por aqui desde pequeno. E sinto que ela
bota sentido em mim. Eu acho que ela manja que eu fui para a escola e
estou voltando agora para revê-la. Ela não tem indiferença pelo meu
passado. Eu sinto mesmo que ela me reconhece agora, tantos anos
depois. Eu sinto que ela melhora de eu ir sozinho sobre seu corpo.
De minha parte eu achei ela bem acabadinha. Sobre suas pedras agora
raramente um cavalo passeia. E quando vem um, ela o segura com
carinho. Eu sinto mesmo hoje que a estrada é carente de pessoas e de
bichos. Emas passavam sempre por ela esvoaçantes. Bando de caititus
a atravessavam para ver o rio do outro lado. Eu estou imaginando que a
estrada pensa que eu também sou como ela: uma coisa bem esquecida.
Pode ser. Nem cachorro passa mais por nós. Mas eu ensino para ela
como se deve comportar na solidão. Eu falo: deixe deixe meu amor, tudo
vai acabar. Numa boa: a gente vai desaparecendo igual quando Carlitos
vai desaparecendo no fim de uma estrada... Deixe, deixe, meu amor.


BARROS, Manoel de. "Memórias Inventadas – A infância". São Paulo: Ed. Planeta, 2003.

"UM SER AMOROSO"

O amor a tudo preenche, a tudo cura e a tudo espera.
Não precisas de palavras, de tristezas ou de angústias;
Não precisas colher a fruta antes dela crescer, tão pouco limitá-la a nunca florescer;
Não precisas montar circos e nem carregar elefantes nas pontas dos dedos;
Não precisas mentir, nem fingir, nem amaldiçoar e nem julgar...
Apenas sê amoroso e este simples estado contagiará o mundo que te cerca, sem que nada precises fazer para que isto aconteça.
Silenciosamente amoroso...
Para que assim te sintas, procura nas profundezas das tuas águas azuis, tuas estrelas marinhas;
No deserto da tua sede, o conhecimento da tua vontade.
Procura na transparência da bondade, os bordados que o Criador te deixou;
No brilho da gentileza, a alegria em não machucar.
Procura nos vales da solidão, a crueldade com que te excluis de ti mesmo;
Nas comportas da permissão, a coragem para que sejas livre.
Procura no silêncio do amanhecer, a canção do Universo;
Na doçura dos teus sonhos, a realidade para os teus planos.
Procura na realidade que vives, a força que te acompanha;
No aconchego da presença silenciosa de Deus, a luz que te banha.
Não te demores em tantas confusões, em tantos enganos, mas sim permita-te ser amoroso e desfrutarás do verdadeiro propósito que a ti está reservado.


Maria Helena Simon

Humildade

Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.

Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”

Cora Coralina - 1976

NINGUEM É INSUBSTITUÍVEL...?

Há os que dizem que ninguém é insubstituível.
Que quando chega, a morte nos apaga e apaga nossos rastros mais cedo ou mais tarde.
Nossa condição de ser insubstituível prevalece por pouco tempo e nos tornamos apenas reproduções de som e imagem, ou palavras mortas sobre o papel ou sobre a pedra, nos livros de história, nos museus.
Quando desaparecemos, o que fazíamos poderá ser feito por outros, o que dizíamos poderá ser dito por outros.
Pronto, tudo resolvido.
A vida continua, o mundo continua a girar.
Verdade?
Mentira...
Não há dois dias iguais. Um sucede ao outro, mas não o substitui. Porque cada dia é único...
Assim como na sinfonia, onde uma nota sucede outra,
mas não a substitui, sempre seremos sucedidos, nunca substituídos.
Porque nossa vida é única...
Porque cada pessoa é única.
Porque tudo o que geramos revela a nossa autoria, como se fosse assim uma espécie de marca. Indelével, singular.
Um filho, um livro, um quadro, uma idéia, um sentimento, uma palavra.
Cada um de nós pode ser insubstituível.
Ser insubstituível, sim, por que não? Um ser insubstituível não por arrogância, nem por posses, nem por dotes físicos ou intelectuais.
Ser um insubstituível ser simplesmente pelas emoções criadas e pelos valores agregados em sua volta.
Ser um insubstituível ser pela renúncia à mediocridade, pela fuga do vazio, pelo abandono da irrelevância.
Poderíamos ser todos insubstituíveis seres, pela energia positiva que transmitimos às outras pessoas, pela vibração produzida por nossos sentimentos, pelos nossos exemplos e atitudes, pelo nosso esforço admirável de passar por esta vida deixando marcas de excelência como se fossem rastros de luz.
Sejamos todos insubstituíveis.
Eu para você e você, para mim.
Uns para os outros. Cada um para todos.


(Arnaldo Pereira Ribeiro)

Mulheres Frágeis

É sempre o contrário...

Ah, como é boa a vida das mulheres frágeis; elas sempre têm alguém que cuide delas, em todos os sentidos.

As fortes fazem tudo sozinhas e são sempre chamadas nas horas do aperto; elas agüentam qualquer tranco e são tão fortes que se metem até mesmo onde não são chamadas, para ajudar a resolver os problemas dos outros.

É dura a vida das fortes; elas não são poupadas de nada. Se alguém está com uma doença grave, são as primeiras a saber; se a namorada do sobrinho ficou grávida, são logo comunicadas, e quando alguém da família é preso com uma trouxinha de maconha, são imediatamente chamadas para as providências de praxe -entre elas, pagar o advogado. Enquanto isso, os pais desses jovens adoráveis estão tomando uma vodca na beira da piscina sem saber de nada -eles não agüentariam um choque desses e precisam ser poupados, já que são frágeis.

Existe sempre alguém para velar pelas frágeis, seja um parente, um amigo, até um vizinho, que bate na porta, preocupado com o silêncio, para saber se está precisando de alguma coisa. Uma mulher frágil é mais frágil que um recém-nascido, e como os homens adoram o papel de protetores -para se sentirem fortes e poderosos-, é a união perfeita da fome com a vontade de comer.

Quando elas ficam doentes, um verdadeiro exército é mobilizado; um leva revistas, o outro, um embrulhinho com umas frutas, e se ela não tem empregada, não falta quem vá para a cozinha fazer uma canjinha. Preste atenção: as mulheres frágeis são indestrutíveis.

Já as fortes, na hora de uma crise de coluna, se arrastam até a geladeira para pegar um copo de água e se alimentam o fim de semana inteiro com uma barra de chocolate, pois ninguém imagina que elas possam precisar de alguma coisa (culpa delas, que preferem morrer de inanição a pedir socorro, para não cair do tipo).

Minha dúvida: uma mulher frágil nasce frágil ou escolhe essa profissão para se dar bem na vida? Elas sempre encontram um homem para cuidá-la. Minha dúvida: uma mulher frágil nasce frágil ou escolhe essa profissão para se dar bem na vida? Elas sempre encontram um homem para cuidá-las, acarinhá-las e cuidar para que nada as atinja, nunca. Enquanto isso, as fortes se acabam de trabalhar e são elas que saem dos supermercados com pacotes de compras sem que ninguém se proponha a dar uma ajuda, mesmo que modesta.

Somos todos estimulados a ser fortes, mas boa vida mesmo levam as frágeis, daí a dúvida: não seria melhor que as crianças fossem ensinadas -sobretudo as meninas- a serem frágeis, pois sempre haverá alguém para resolver seus problemas? E aliás, qual a vantagem de ser forte, além de ouvir dizer que um dia alguém se referiu a ela dizendo "aquela é uma mulher forte"? Um grande elogio, é verdade. Mas e daí?

Toda mulher forte tem desejos secretos que não conta nem a seu travesseiro: que alguém -nem é preciso que seja um homem- faça, um dia, um gesto por ela. Nada de muito importante; apenas um cuidado, dizer que está um pouco pálida, perguntar se tem se alimentado direito, pegar pelo braço e levar para tomar um suco. Sabe qual é o sonho secreto de uma mulher forte? Ter uma gripe com 38C de febre e poder ficar na cama, sabendo que alguém vai cuidar da vitamina C, essas coisas.

Mas isso é difícil, pois uma mulher forte não adoece, e se isso acontecer, o mais difícil vai ser receber ajuda. Uma mulher forte não deixa que ninguém faça nada por ela, mesmo precisando desesperadamente, e é capaz de se deixar morrer de tristeza, solidão e sofrimento, a pedir socorro, seja a quem for.

Como são frágeis, as fortes.


Danuza Leão

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Descreva sua própria vida

Peça para um publicitário descrever um botão de camisa, você ficará deslumbrado com tantas funcionalidades que ele vai achar para o botão e vai até mudar o seu conceito sobre o "pobre" botãozinho.

Peça para uma pessoa apaixonada descrever a pessoa amada, aquela pessoa bem "feiazinha" que você conhece desde a infância e vai até pensar que ele está falando de outra pessoa. O apaixonado enche a descrição de delicadezas, doçura e gentilezas, transformando a fera em bela em instantes.

Peça para o poeta descrever o sol e a lua, e você vai se encantar pelos poderes apaixonantes da lua, pela beleza do sol que irradia seus raios como se fossem gotas do milagre divino no arrebalde da tarde quente onde o amor convida os apaixonados para viver a vida intensamente...

Peça para um economista falar da economia mundial e tome uma lição de números e mercados, bolsas e câmbios oscilantes, inflação e mercados emergentes, e se não sair de perto, vai acreditar que em breve teremos a maior recessão da história e que a China é o melhor lugar do mundo para se viver.
Pegue um banquinho e um lençol e sente-se para chorar. É só reclamação, frustração, dores, misérias e desconfiança geral. Você sente a energia te contaminando, vai fazendo mal, vai te deixando sem forças, porque os desanimados, os reclamões e depressivos tem o poder "vampiresco" de sugar energias do bem e transformar em medo, e o medo paralisa as pessoas de tal forma que fica difícil até o mais simples pensar.

E você?
Como é que você descreve a sua vida?
Quem é você para você mesmo?
Como seria um comercial da sua vida?
Como você venderia o produto "você"?
Você é barato, tem custo acessível ou é daquelas figuras caras, daquelas que não tem tempo para perder com a tristeza e com o passado?
Você tem 1001 utilidades?
Alias, você vive em que século mesmo?

São os teus olhos que refletem o que vai na sua alma, e o que vai na sua alma se reflete na qualidade de vida que você leva. É o seu trabalho que representa o seu talento, ou não. Por isso, não tem outro jeito, seja o melhor divulgador de você mesmo, valorize-se, esteja sempre pronto para dar o seu melhor, com seu melhor sorriso, com sua melhor roupa, com seu melhor sentimento, com suas melhores intenções, com sua gentileza sempre pronta para entrar em ação. Seja OMO, BRASTEMP, Lux de Luxo, e se for chocolate, que seja logo Godiva, suíço e caro, porque gente especial igual a você não existe em nenhum mercado, e tem que valer sempre mais.
VALORIZE-SE!, não importa o que você faz, importa sim como você faz, isso sim, faz toda a diferença.

Eu acredito em você!

Paulo Roberto Gaefke

DIA DE FAXINA

Estava precisando fazer uma faxina em mim...
e fiz : abrindo o armário.
Assim como jogar alguns pensamentos indesejados fora,
lavar algumas essências que andam meio que enferrujadas,
pois já não brilhavam.
Tirei do fundo das gavetas lembranças que não uso e não quero mais.
Joguei fora alguns sonhos, algumas ilusões.
Papéis de presente que nunca usei,
sorrisos que nunca darei,
joguei fora a raiva e o rancor
das flores murchas que estavam
dentro de um livro que não li.
Olhei para meus sorrisos futuros
e minhas alegrias pretendidas,
e as coloquei num cantinho ,
bem arrumadinhas.
Fiquei sem paciência,
tirei tudo de dentro do armário
e fui jogando no chão:
paixões escondidas, desejos reprimidos,
palavras horríveis que nunca queria ter dito,
mágoas de um amigo,
lembranças de um dia triste,
mas havia lá, outras coisas e belas!!!
Um passarinho cantando na minha janela...
aquela lua cor de prata que vi na praia,
o pôr do sol nas montanhas...
Fui me encantando e me distraindo;
olhando para cada uma daquelas lembranças.
Sentei no chão,
para poder fazer minhas escolhas.
Joguei direto no saco de lixo
os restos de um amor que me magoou.
Peguei as palavras de raiva e de dor
que estavam na prateleira de cima,
pois quase não as uso,
também joguei fora no mesmo instante!
Outras coisas que ainda me magoam,
coloquei num canto
para depois ver o que faria com elas.
Se as esquecia lá mesmo
ou se mandava para o lixão.
Aí, fui naquele cantinho,
bem naquela gaveta
que a gente guarda tudo o que é mais importante:
o amor, a alegria, os sorrisos,
um dedinho de fé
para os momentos que mais precisamos,
e sabe o que descobri ?
Que tinha um jóia lá, toda embrulhadinha,
tão rara e preciosa,
talvez o maior bem que possua.
Eu não a usava há muito tempo.
Nem sabia que a tinha mais,
tinha me esquecido.
mas, ela estava lá
e quando eu a olhei,
ela brilhou para mim,
como sempre o fizera;
Peguei-a entre os dedos e fiquei apreciando.
Assim, embevecida e encantada.
Cuidei dela com muito carinho,
despejei meu amor por entre suas frestas
e não deixei de usá-la mais.
Agora mesmo eu a estou usando
para falar com você.
Pode saber o que é?
Sim, amigo, é minha arte de escrever.
De brincar com o teclado
e com o jogo de letras
que se fazem visíveis no meu pensamento
mesmo antes dos dedos tocarem o teclado,
mas, que às vezes,
parece que são mais rápidos do que ele
e posso me divertir mais assim.
E com uma simples frase,
escrever uma história inteira.
Em dia de faxina,
sempre fica tudo uma bagunça incrível,
desorganizamos tudo,
para colocar em ordem depois
mas, melhor é desorganizar a ordem,
porque fica tudo certinho.
Bem, assim ...mais fácil para mim.
Recolhi com carinho o amor encontrado,
dobrei direitinho os desejos,
coloquei perfume na esperança,
passei um paninho na prateleira das minhas meta,
deixei-as à mostra, para não perdê-las de vista.
Coloquei nas prateleiras de baixo
algumas lembranças da infância,
na gaveta de cima as da minha juventude e,
pendurado bem à minha frente,
coloquei o meu amor,
pois eu o uso a todo instante,
mantenho-o sob meu olhar de paixão incontida,
banho-o todos os dias com ternura,
dou-lhe atenção de menina,
durmo com ele,
bem juntinho ao meu lado
e encho-o de beijinhos melados
E ele? Bem,... ele retribui.

(Rosy Beltrão)

Brandos e Pacíficos

A azáfama do dia cedera lugar a terna e suave tranqüilidade. As atividades fatigantes alongaram-se até as primeiras horas da noite, que se recamara de astros alvinitentes. Os últimos corações atendidos, à margem do lago, após a formosa pregação do entardecer, demandaram os seus sítios facultando que eles, a seu turno, volvessem à casa de Simão.

Depois do repasto simples, o Mestre acercou-se da praia em companhia do apóstolo afeiçoado e, porque o percebesse tristonho, interrogou com amabilidade:

- Que aflição tisna a serenidade da tua face, Simão, encobrindo-a com o véu de singular tristeza?

Havia na indagação carinhoso interesse e bondade indisfarçável.

Convidado diretamente à conversação renovadora, o velho pescador contestou com expressiva entonação de voz, na qual se destacava a modulação da amargura:

- Cansaço, Senhor. Sinto-me muitas vezes descoroçoado, no ministério abraçado... Não fosse por ti...

Não conseguiu concluir a frase. As lágrimas represadas irromperam afogando o trabalhador devotado em penosa agonia. E como o silêncio se fizesse espontâneo, ante o oscular da noite que os acalentava em festival de esperança, o companheiro, sentindo-se compreendido e, passado o volume inicial da emotividade descontrolada, prosseguiu:

- Não ignoro a própria inferioridade e sei que teu amor me convocou à boa nova a fim de que me renovasse para a luz e pudesse crescer na direção do amor de nosso Pai. Todavia, deparo-me a cada instante com dificuldades que me dilaceram os sentimentos, inquietando-me a alma.

Ante o olhar dúlcido e interrogativo do Amigo discreto adiu:

- É verdade que devemos perdoar todas as ofensas, no entanto, como suportar a agressividade que nos fere, quando pretende admoestar e que humilha, quando promete ajudar?

- Guardando a paz do coração - redargüiu o divino Benfeitor.

- Todavia - revidou o discípulo sensibilizado -, como conservar a paz, estando sitiado pela hipocrisia de uns, pela suspeita pertinaz de outros, sob o olhar severo das pessoas que sabemos em pior situação do que a nossa?

- Mantendo a brandura no julgamento - respondeu o Senhor.

- Concordo que a mansuetude é medicamento eficaz - redargüiu Pedro - , não obstante, não seria de esperarmos que os companheiros afeiçoados à luz nova também a exercitassem por sua vez? Quando a dúvida sobre nossas atitudes parte de estranhos, quando a suspeição vem de fora da grei, quando a agressividade nos chega dos inimigos da fé, podemos manter a brandura e a paz íntimas. Entrementes, sofrer as dificuldades apresentadas por aqueles que nos dizem amar, tomando parte no banquete do Evangelho, convém consideremos ser muito mais difícil e grave o cometimento...

Percebendo a angústia que se apossara do servo querido, o Mestre, paciente e judicioso, explicou:

- Antes de esperarmos atitudes salutares do próximo, cabe-nos o dever de oferecê-las. Porque alguém seja enfermo pertinaz e recalcitrante no erro, impedindo que a luz renovadora do bem o penetre e sare, não nos podemos permitir o seu contágio danoso, nem nos é lícito cercear-lhe a oportunidade de buscar a saúde. Certamente, dói-nos mais a impiedade de julgamento que parte do amigo e fere mais a descortesia de quem nos é conhecido. Ignoramos, porém, o seu grau de padecimento interior e a sua situação tormentosa. Nem todos os que nos abraçam fazem-no por amor, bem o sabemos... Há os que, incapazes de amar, duvidam do amor do próximo; os que mantendo vida e atitudes dúbias descrêem da retidão alheia; os que tropeçando e tombando descuram de melhorar a estrada para os que vêm atrás... Necessário compreendê-los todos e amá-los, sem exigir que sejam melhores ou piores, convivendo sob o bombardeio do azedume deles sem nos tornar-nos displicentes para com os nossos deveres ou amargos em relação aos outros...

- Ante a impossibilidade de suportá-los -sindicou o pescador com sinceridade -, sem correr o perigo de os detestar, não seria melhor que os evitássemos, distanciando-nos deles?

- Não, Simão - esclareceu Jesus. - Deixar o enfermo entregue a si mesmo será condená-lo à morte; abandonar o revel significa torná-lo pior... Antes de outra atitude é necessário que nos pacifiquemos intimamente, a fim de que a brandura se exteriorize do nosso coração em forma de bênção.

“Na legislação da montanha foi estabelecido que são bem-aventurados os brandos e pacíficos...

“A bem-aventurança é o galardão maior. Para consegui-lo é indispensável o sacrifício, a renúncia, a vitória sobre o amor-próprio, o triunfo sobre as paixões.

“Amar aos bons é dever de retribuição, mas servir e amar aos que nos menosprezam e de nós duvidam é caridade para eles e felicidade para nós próprios.”

Como o céu continuasse em cintilações incomparáveis e o canto do mar embalasse a noite em triunfo, o Mestre silenciou como a aspirar as blandícias da Natureza.

O discípulo, desanuviado e confiante, com os olhos em fulgurações, pensando nos júbilos futuros do Evangelho, repetiu quase num monólogo, recordando o Sermão da Montanha:

“Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra.

“Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus.”

E deixou-se penetrar pela tranqüilidade, em clima de elevadas reflexões.


Amélia Rodrigues

Psicografia de Divaldo Pereira Franco

FAXINA NA ALMA

Não importa onde você parou...
em que momento da vida você cansou...
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...
é renovar as esperanças na vida e o mais importante...
acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período?
foi aprendizado...
Chorou muito?
foi limpeza da alma...
Ficou com raiva das pessoas?
foi para perdoá-las um dia...
Sentiu-se só por diversas vezes?
é porque fechaste a porta até para os anjos...
Acreditou que tudo estava perdido?
era o início da tua melhora...
Pois é... agora é hora de reiniciar... de pensar na luz...
de encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Um corte de cabelo arrojado... diferente?
Um novo curso... ou aquele velho desejo de aprender
pintar... desenhar... dominar
o computador... ou qualquer outra coisa...
Olha quanto desafio...
quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te esperando.
Tá se sentindo sozinho?
Besteira...
tem tanta gente que você afastou com o seu
"período de isolamento"...
tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu
para "chegar" perto de você
Quando nos trancamos na tristeza...
nem nós mesmos nos suportamos...
ficamos horríveis...
o mal humor vai comendo nosso fígado...
até a boca fica amarga.
Recomeçar... hoje é um bom dia para começar
novos desafios.
Onde você quer chegar? ir alto... sonhe alto...
queira o melhor do melhor...
queira coisas boas para a vida...
pensando assim trazemos prá nós aquilo que desejamos...
se pensamos pequeno... coisas pequenas teremos...
já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente
lutarmos pelo melhor...
o melhor vai se instalar na nossa vida.
E é hoje o dia da faxina mental...
joga fora tudo que te prende ao passado...
ao mundinho de coisas tristes...
fotos... peças de roupa, papel de bala... ingressos de
cinema... bilhetes de viagens...
e toda aquela tranqueira que guardamos quando nos
julgamos apaixonados...
jogue tudo fora...
mas principalmente... esvazie seu coração...
fique pronto para a vida... para um novo amor...
Lembre-se somos apaixonáveis...
somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes...
afinal de contas...
Nós somos o "Amor"...
Porque somos do tamanho daquilo que vemos,
e não do tamanho da nossa altura.

Sempre vai existir um ser além de nós, e confia
nele agora, que ele guiará os teus passos ...

(Carlos Drummond Andrade)

A ABELHA E A FLOR

Ide pois aos vossos campos e pomares,
e lá aprendereis que o prazer da abelha
é de sugar o mel da flor,
mas que o prazer da flor
é de entregar o mel à abelha.


Pois, para a abelha,
uma flor é uma fonte de vida.
E para a flor
uma abelha é mensageira do amor.

E para ambas,
a abelha e a flor,
dar e receber o prazer
é uma necessidade e um êxtase.

(Khalil Gibran

Servo de Todos

A imensa planície se desdobra entre os contrafortes dos outeiros.

Ao longe, o "primogênito dos montes" da Palestina — o Hermon — ostenta o cabeço aureolado de sol, e, a regular distância, o Tabor, parecendo uma sentinela natural, altaneira, defendendo a imensa planície, onde a balsamina medra em abundância e os tamarindeiros se arrebentam em flores.. .

Simultaneamente ali está a planície dos homens na qual se misturam as paixões e se decompõem as esperanças.

Planície da Terra e planície dos corações.

Naquela se misturam os cadáveres e as moscas entre córregos que cantam e flores que desatam aromas. Nesta as inquietações e desesperos, fecundando sorrisos e edificações.

Na terra os homens...

Nos homens o barro frágil da terra...

* * *

A planície dos espíritos se perde de vista. A multidão se agita e percorre os caminhos.

Longas são as estradas a vencer.

Dia de sol e céu transparente. A leve brisa murmura uma doce música no arvoredo, carreando ondas de suave perfume.

A Sua figura é um desafio — desafio de amor! Mais do que um estóico, porque faz do sofrimento um meio de atingir Deus e não o fim precípuo do Seu ministério, Ele parece penetrar no dédalo de todas as solicitudes humanas.

Pairando na face o tênue véu de singular melancolia, Seus olhos se transformam em duas estrelas reluzentes.

— Que vínheis discutindo pelos caminhos ? — indagou. A voz pausada possuía um tom de reproche melancólico.

Vivia com aqueles companheiros, sentia suas aspirações, participava das suas dores, falava-lhes do Reino e das suas realizações e eles, no entanto, continuavam esvaziados de ideal. Fizera-se igual sem participar das suas querelas, testemunhando a nobreza da Sua compreensão permanente e ajudando-os, não obstante se demoravam trêfegos, levianos...

— Que vínheis discutindo pelo caminho? — A indagação os surpreendera, crianças espirituais, disputadores da ilusão...

* * *

Eles vinham joviais e alegres. Uma festa n'alma cantava júbilos inesperados. O dia de sol, a transparência do ar, o azul do céu, o frescor daquela hora matinal, as recordações dos acontecimentos últimos, no alto Tabor e em baixo, ao lado do epiléptico, as exaltações da massa já saciada nas primeiras tentativas, que não suportavam sopitar as inquirições que desde há algum tempo bailavam nas suas mentes.

— Quem dentre nós será o maior, no conceito do Rabi? Qual será o maior no Reino dos Céus?

A pergunta espocou espontânea, natural, inocente. ..

Estugaram o passo e se entreolharam... Quem seria realmente o maior dentre todos? — pensaram. E como se o assunto não merecesse maiores considerações um silêncio incomodo se abateu sobre o grupo. No íntimo, porém, cada um se exalta e sorri emocionado, meneando a cabeça em assentimento, como se estivesse a ouvir o Mestre gentil destacar o mais amado, o mais relevante — é claro, que cada um a si se atribui o mérito da escolha.

As pedras do solo ao atrito com as alpercatas rolam, produzem característico ruído e a marcha prossegue.

— Eu, — referiu-se Judas — sem dúvida gozo da relevante confiança do Amigo. A mim me foi entregue a bolsa da Comunidade, num atestado inequívoco de consideração.

Não receio, por isso, ser, senão o maior, um dos maiores.. .

Sorriu e cofiou a barba, fitando os companheiros estremunhados.

— Sou austero — apostrofou Tiago, Maior. — E o Mestre nunca deixou de me reservar Suas confidências, expressivas e nobres. Convida-me, não poucas vezes, a colóquios longos, narrando aos meus o que outros ouvidos não podem escutar.. .

Tomé, o Dídimo, verberando a prosápia dos companheiros, atroou:

— E Simão Pedro? Não tem sido ele o distinguido com maior consideração? Não é a sua a casa elegida para as reuniões e os estudos dos planos futuros? Não esteve ele, também, no Tabor, como testemunha? Eu desconfio muito que não estaria mal situado na opinião do Senhor.. .

— João, todavia, repousa no seu peito — aventou Bartolomeu. — É o mais jovem de todos nós, carinhosamente tratado pela ternura do Embaixador Celeste. Talvez não tenha ainda toda a inteireza exigível para continuar a Obra ora encetada, não obstante...

— Mateus Levi, convém ressalvar, — afirmou Pedro, algo inquieto — é o mais erudito do grupo. Somos pescadores ignorantes, ele, todavia, lê e escreve, é hábil na arte das letras e da convivência com as leis. Embora o seu silêncio.. .

— Não concordo! — bradou Judas...

A discussão se fez acalorada e por pouco o pugilato infeliz não perturbou a união dos corações chamados ao amor, à concórdia, à paz...

* * *

— Que vínheis discutindo pelo caminho? — eis a indagação do Senhor.

"Queríeis saber quem dentre vós é o maior no Reino dos Céus. Eu vos digo: aquele que se fizer o menor.

"O responsável do grupo é o servidor de todos. O comandante é o colaborador do grupo.

O chefe é o subalterno das necessidades dos servidores.

"Servo dos servos.

"Não se pertence nem se permite repouso.

"Renuncia ao nome e à paz, à alegria e à própria opinião.

"Zeloso pelo bem-estar de todos é magoado por uns e outros, por todos incompreendido

"Quando ajuda sofre e sofre porque não pode ajudar — e todos o espezinham. Ferem-no e buscam-no, traem-no e sorriem para ele — servo de todos!

"O maior se apaga servindo.

"Apontado, ninguém crê nele, subestimam-no. Não merece consideração e assim paira naturalmente inatingido, sereno no dever íntimo, respeitado por si mesmo: o maior dentre todos!"

Os invigilantes recordam, então, o pedido de Salomé, a imprudente e a precipitada esposa de Zebedeu, que fora solicitar-Lhe colocar os dois filhos, um à direita outro à esquerda do Seu trono, quando fosse a hora do triunfo.

Não esqueceriam a resposta pausada e triste com que Ele elucidara a ambiciosa mãe:

— "É necessário saber se eles estarão dispostos a sorver a taça da amargura até a última gota —respondera. Quanto, porém, a colocá-los um à minha direita e outro à minha esquerda, isto não me compete..."

Houve um silêncio.

De cabelos encaracolados, passou gárrula criança de sorriso em flor.

O mestre, tomando-a, dela fez o seu modelo.

"Aquele que se fizer semelhante a um menino este penetrará no Reino de Deus."

Os pequenos e claros olhos cheios de brilho do infante refletem pureza integral.

Ser adulto, com alma de criança, sem as mazelas da idade adulta.

Envelhecer e permanecer puro — sem malícia, sem impiedade, sem mágoa, jovial, inocente como uma criança na quadra primaveril.

O maior de todos é o mais afável, o que mais se dedica e serve. Servo de todos e de todos amigo, não escolhendo misteres para ajudar.

Há os que são os maiores na ilusão e no engodo e sofrem a febre da ambição e da loucura.

Grandes, o mundo sempre os teve, com a alma enferma e mesquinha.

Pequenos nas grandes coisas e grandes nas tarefas insignificantes. Apequenar-se na grandeza para glorificar-se na pequenez.

— Que vínheis discutindo pelo caminho?

Seja, o que deseja o destaque, o servo de todos; faça-se o menor.

Menor no orgulho.

Maior na abnegação, na renúncia.

Maior — menor de todos, como Ele se revelara.



Amélia Rodrigues

Do livro, Luz do Mundo, de Divaldo Pereira Franco

Quando me amei de verdade...

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância,
eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E, então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome...
Auto-estima.

Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, meu
sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra
as minhas verdades.
Hoje sei que isso é... Autenticidade.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse
diferentee comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar
forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo,
mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada,
inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.

Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse
saudável ... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo.
De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama...
Amor-próprio.

Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre e desisti
de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... Simplicidade.

Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com
isso, errei muito menos vezes.
Hoje descobri a...
Humildade.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de
me preocupar com o Futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é...
Plenitude.

Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente pode me
atormentar e me decepcionar. Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é....
Saber viver!!!




(Charles Chaplin)