sexta-feira, 27 de junho de 2008

Ninguem vence

O pequeno caranguejo avançava na parte exposta daquele banco de coral. Seu objectivo era uma parede de rochas soltas, cujas fendas e frisuras na diagonal lhe pareciam tentadoras em termos de abrigo e comida.
Avançava lentamente, prescrutando com seus apêndices oculares a região em volta.
Avançava meio lateralmente em virtude a corrente marinha que se fazia sentir com mais intensidade naquela parte do recife.
Um único olho de um polvo de anéis azuis seguia o movimento do caranguejo. Apesar de se encontrar completamente exposto nas rocha o polvo era completamente invisível. Ele era um campeão da camuflagem. Até a textura de sua pele tinha modificado, adquirindo as cores, padrões e rugosidade da rocha castanho cinzenta em volta. Ele esperava o momento certo para desferir o seu ataque traiçoeiro.
O caranguejo avançava agora mais rapidamente. A proximidade das fendas para onde se dirigia fazia-o avançar mais rapidamente esquecendo regras de segurança elementares e apostando na sorte. De súbito, um movimento repentino o fez apressar.
O polvo largou sua passividade para lançar o ataque por cima e por de traz do caranguejo. No entanto quase falhou empurrado para traz pela correnteza. Assim sendo só a ponta de dois dos seus oito tentáculos floraram a carapaça do caranguejo e mesmo assim só um se fixou firmemente. Era o bastante.
O caranguejo sentindo-se preso ancorou duas das suas patas numa minuscula frisura que cortava a rocha e rodou, e forma me essas duas patas exercessem forças opostas para melhor se firmar. As outras patas ele encolheu ajeitando as articulações de forma que não desproteger a parte de baixo do seu corpo.
O Polvo sentindo um dos seus tentáculos presos, usou ele para puxar seu corpo para
puxar seu corpo para cima da presa. Assentou seu peso sobre ele, rodando de lado para lado como que uma galinha rodando para chocar seus ovos. Os seus tentáculos envolveram o caranguejo todo, procurando uma abertura na sua defesa passiva. O caranguejo tinha sido pego, mas os dois oponentes se equiparavam em massa corporal.
Assim, por mais que o polvo tentasse procurar algum ponto fraco, pelas duas pernas parcialmente entreabertas na ancoragem das rochas. No entanto o polvo sabia que se retirasse esse apoio o mais certo era ele a a presa rolar pela rocha a baixo pelo força da maré e quem sabe acabar ambos na boca de um predador maior. Por isso sacrificou duas patas para se firmar também apesar de seu desejo crescente de procurar abrigo para acabar de vez com sua presa.
O caranguejo sentia que não escapava de tal abraço recolheu firmemente as patas, esperando que o povo de alguma forma relaxa-se a guarda para tentar se escapar.
O polvo, centrou sua boca no meio da carapaça do caranguejo,e com seus tres dentes semelhantes a bicos de papagaio começou a arranhar a crosta do caranguejo, primeiro lentamente e depois com um frenesim cada vez maior.
O caranguejo entrou em pânico sentindo suas defesas se desmoronar pelo lado que menos esperaria. Num espasmo tentou se afastar daquele incomodo que sentia cada vez mais forte nas suas costas, então sacudiu as pernas numa ânsia de fuga desesperada.
O polvo aproveitou isso para infiltrar os tentáculos por entres as patas dele, em dobras cada vez mais intrincadas e ventosas cada vez mais firmemente grudadas. Aí inciou um "braço de ferro", forçando lentamente as patas do caranguejo para traz,até o ponto de rotura.
Já o polvo persentia a derrota do seu oponente e seus padrões de cores inconscientemente se diversificavam quando uma sombra aumentava sobre e e uma explosão de ultra sons varreu e ecoou pelos recantos de rochas amontoadas perto.
O polvo largou sua presa já moribunda, tentou refugiar-se na toca mais próxima, mas indo acabar no dentes afiados de um golfinho, que o pegou destramente o levou para aguas aberta, brincou com ele de puro sadismo e o engoliu de uma só vez.
O caranguejo rolou docemente na vertente rochosa. Seu corpo partido em dois estava apenas seguro por filamentos de carne macia. Fez um compasso de espera na borda do penhasco e caiu mansamente para a areia ondulada no leito do oceano, na qual ele ficou deslizando num sobe e desce pela correnteza.
Naquele branco areal sem fim contrastando como azul turquesa do mar, um solitário coral rosa, era moradia de dois cavalos marinhos de coloração ambarina que efectuavam, naquele momento, a sua dança de acasalamento em espirais rodopiantes.
Pararam por momentos, entrelaçando as suas caudas pênsil nas ramificações delicadas do coral, quando um vulto de golfinho passou majestoso tapando a luz que da superfície se reflectia, enquanto percutia a aérea em volta com o seu sofisticado sonar em busca de mais alimento fácil.
Um pouco mais além, a carcaça de um caranguejo estava polvilhada de um sem numero de minúsculos camarões necrófilos, num frenesim de alimento que parecia que uma nuvens pairava em volta.
Ninguém vence, mas também tinguem perde, é só deixar a natureza seguir seu rumo.




José Cristelo
Março de 2008

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